De vigia a diretor: a trajetória do executivo negro que terminou os estudos depois de adulto

De vigia a diretor: a trajetória do executivo negro que terminou os estudos depois de adulto

Aos 55 anos, Claudionor Alves gosta de contar como foi sua trajetória de vida. Em fevereiro, ele assumiu a diretoria de segurança, riscos e prevenção do Carrefour Brasil.

A responsabilidade do cargo é gigante. Essa contratação aconteceu depois de João Alberto Freitas, um cliente negro, ser espancado até a morte por funcionários do Carrefour de Porto Alegre na véspera do Dia da Consciência Negra do ano passado.

Nascido em Amargosa, na Bahia, ele viveu na roça até os 21 anos. Lá, trabalhava como lavrador e feirante. Mas ele decidiu se mudar para São Paulo. Na época, ele tinha estudado até a 4ª série do ensino fundamental e seu sonho era ser caminhoneiro. Ele achava o máximo poder viajar e voltar para casa aos finais de semana.

Seu primeiro emprego em São Paulo foi como agente de manutenção de um banco. “Depois, fui cobrador de ônibus no Guarujá. Como sonhava em ser motorista de caminhão, achava que ser cobrador era um caminho para virar motorista de ônibus e depois passar para o caminhão.”

Mas ele viu que aquela função não era para ele e começou a trabalhar na área de segurança. “Comecei como vigilante há 33 anos. Vim de família humilde, fui o primeiro da família a ter curso superior, o primeiro a viajar para outros países. Quebrei vários paradigmas.”

Antes do Carrefour, Claudionor ocupou cargos de liderança em empresas grandes, como IBM e Serasa Experian. Mesmo ocupando esses cargos, o executivo negro já sofreu discriminação. “Sofri, mas acredito que por conta do racismo estrutural. Em alguns casos, fui confundido com manobrista, segurança do condomínio em que moro.”

A que ele atribui sua trajetória de sucesso? Claudionor diz que não foi fácil superar todas as defasagens de formação. “Cresci com muita dedicação, sempre trabalhando e estudando, dormindo muito pouco, com muito sacrifício. Sempre digo que tenho uma vida confortável hoje por conta de muito esforço.”

E não faltaram críticas e tentativas de desencorajá-lo a estudar. “A gente escuta coisas como ‘estudar nessa idade não compensa’. Ou ‘o cara não fala nem português e quer aprender inglês’. Eu poderia ter desistido, mas sempre acreditei que estava no caminho certo.”

Nas palestras que dá, Claudionor diz que sempre tenta passar para as pessoas que é preciso se esforçar. “Tenho orgulho de falar da minha trajetória. Acho que serve de motivação para outras pessoas saberem que dá para chegar lá. Eu soube aproveitar as oportunidades que a vida me deu, mas com muita responsabilidade e compromisso.”

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