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Golpe do emprego: criminosos enganam desempregados com falsas vagas

Golpe do emprego: criminosos enganam desempregados com falsas vagas

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O ano passado não foi fácil para Mariana Domin. Depois de pegar covid-19 e ter sequelas agravadas pela sua diabetes, a jornalista de São Bernardo do Campo (SP) entrou para a lista das milhões de pessoas que perderam o emprego na pandemia. Como se não bastasse, quase foi alvo de um golpe antigo, mas que voltou com tudo: o da falsa vaga de emprego.

Nesse tipo de golpe, as vítimas são orientadas a fazer pagamentos para participarem de cursos de atualização, palestras e até para se cadastrar em banco de vagas.

“Quando veio o boleto em nome de uma pessoa física, desconfiei. Aí tentei negociar o dia de pagamento para enrolar. A pessoa então sugeriu que eu pagasse por Pix. Nessa hora, vi que era golpe”, contou a jornalista.

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A falsa vaga parecia idônea e foi encontrada em um grupo de profissionais de sua classe no Facebook. Mariana seria contratada para trabalhar como gerenciadora de mídias em um hospital – mas antes teria que pagar para fazer um curso antes da admissão.

“Mandaram um feedback dizendo que eu havia sido aprovada para a vaga, mas precisaria fazer um treinamento para lidar com questões hospitalares. Se eu, que sou jornalista, quase caí nessa, imagina outras pessoas. Fiquei abalada”, contou Mariana, que não fez o pagamento.

Os golpistas tentam se aproveitar da fragilidade das pessoas que estão sem emprego. Caroline Azevedo, coordenadora de RH, explica que empresas regulares e sérias não exigem pagamentos de nenhum tipo para fazer a seleção ou a admissão de candidatos. “Não existe isso de pagar para processo seletivo ou curso. Se acontecer, caia fora”, orienta a especialista.

Como se defender?

Para se certificar de que aquela oportunidade de trabalho é verdadeira, o interessado deve consultar o site da empresa e suas páginas em redes sociais como Facebook e LinkedIn. Algumas divulgam novas vagas em centros de apoio ao trabalhador ou em jornais.

“Verifique se a vaga tem um telefone e e-mail da empresa. Se entrarem em contato por WhatsApp, desconfie. Não que a vaga não possa ser verdadeira, mas os golpes circulam mais por WhatsApp”, afirma Caroline. “Quando eu faço contratações, ligo, marco entrevista e vou mostrando aos poucos como funciona a empresa. Jamais peço para pagar alguma coisa.”

Segundo a especialista, os candidatos também devem tomar cuidado com os dados que fornecem ao suposto selecionador.

“Pedir o número do CPF também é sinal de golpe. A empresa não precisa dele para fazer entrevista. Ela vai pedir os dados se o candidato for selecionado, na contratação, não antes”.

O perito Wanderson Castilho, especialista em crimes eletrônicos, endossa que a ferramenta mais usada em fraudes online atualmente é o WhatsApp.

“A melhor arma contra esse golpe não é antivírus ou firewall: é informação. Se chegar [a oferta], fique com o pé atrás, pergunte e pesquise antes de fazer qualquer adesão. Todas as vítimas falam ‘ah, se eu soubesse’. Só a informação pode defender”, afirmou Castilho.

Adolescentes são alvos fáceis

Adolescentes em busca do primeiro emprego estão entre os alvos preferidos dos golpistas. Vulneráveis, eles envolvem os pais, que acabam baixando a guarda. A confeiteira Raquel de Oliveira Santos, de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, teve um prejuízo de R$ 390.

“Ligaram para minha filha de 16 anos marcando entrevista. Ela estava doida para trabalhar. Era uma escola de inglês, disseram que ela tinha potencial, mas não tinha qualificação e teria que fazer o curso. Assinei e passei no cartão de crédito a entrada”, contou Raquel.

Ela só se deu conta de que o que havia acontecido não era correto ao chegar em casa. “Deu aquele estalo: ‘não existe pagar’. Mas naquele momento, na escola, só olhava para a minha filha que queria trabalhar. Ficou chateada, na ilusão”, lamentou a mãe.

Raquel não conseguiu reaver a entrada paga, teve dificuldade de cancelar as parcelas seguintes e ainda pagou 10% de multa por cancelar o suposto curso.

“Depois encontrei na internet várias reclamações do mesmo tipo sobre a escola. As lições que ficaram: nunca passar o telefone de ninguém, pois achamos que foi assim que ligaram para ela, e não fornecer o cartão de crédito sem pensar”.

Abordagem pode ser até para a prostituição

Falsas ofertas de trabalho em que empresas abordam os interessados podem ser a isca para outros crimes, diz Caroline Azevedo. “Quando entram em contato com candidatos, há mais chances de haver algo errado, até mesmo aliciamento para a prostituição”, alerta a coordenadora de RH. “Esses golpes aumentaram muito na pandemia e são mais comuns nas redes sociais.”

A analista de mídias sociais Regiane Lambert, de São Paulo, também ficou desempregada na pandemia e procurou oportunidades em promoção de eventos. Em uma das abordagens, achou estranho o pedido da suposta empresa.

“Era uma vaga para promotora de eventos. Fiz o contato e me pediram para enviar foto de corpo. Questionei se esse era o processo correto de avaliação e me bloquearam na hora”, contou Regiane.

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